Campinas

Beth Sahão reúne  militantes, empresárias, acadêmicas e juristas para refletir sobre mulheres e espaços de poder

A presença das mulheres em espaços de poder e o enfrentamento à violência de gênero foi a tônica da audiência pública promovida pela deputada Beth Sahão, em 21/5, …

ícone relógio23/05/2025 às 17:35:25- atualizado em  
Beth Sahão reúne  militantes, empresárias, acadêmicas e juristas para refletir sobre mulheres e espaços de poder

A presença das mulheres em espaços de poder e o enfrentamento à violência de gênero foi a tônica da audiência pública promovida pela deputada Beth Sahão, em 21/5, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).

O encontro reuniu mais de 300 mulheres entre lideranças femininas que atuam no universo empresarial, jurídico, acadêmico e político, que contribuíram com reflexões, informações e dados para mobilizar as mulheres em defesa de seus direitos e encorajá-las a galgar espaços de poder.

Logo no início dos debates, Beth Sahão, que coordena a Frente Parlamentar pela Defesa da Vida e da Proteção de Mulheres e Meninas, destacou o problema estrutural no Brasil, que atinge mulheres de todas as classes sociais, que é o machismo que traz em seu bojo o assédio moral e sexual, concluindo que “promover a igualdade de gênero é nossa grande luta”.

A deputada, autora do projeto de lei que institui Delegacias da Mulher 24 horas, iniciativa que foi vetada pelo Executivo, alertou para a explosão de casos de feminicídio — homicídio de mulheres cometido em razão do gênero.

De acordo com a parlamentar, o Estado registrou 250 assassinatos de mulheres em 2024, alta de 13% em relação ao ano anterior. Nesse ponto, Beth defendeu a ampliação das unidades policiais especializadas no combate à violência de gênero no Estado. “Das 141 delegacias [de defesa da mulher] que temos em todo o Estado, apenas 11 funcionam 24 horas. Isso é um prejuízo para as mulheres”, criticou.

Entre as participantes do debate, a empresária Luiza Trajano, fundadora do Grupo Mulheres do Brasil — com mais de 130 mil associadas — defendeu que combater a violência de gênero é uma causa “unânime em qualquer lugar” do mundo.

A empresária que coordena uma rede de mil e 200 lojas em todo o país salientou que é preciso coragem para enfrentar a violência contra as mulheres; mencionou o Canal Mulher da Rede Magalu e apontou a necessidade de aumento do patrulhamento preventivo por meio das rondas Maria da Penha, que deveriam atuar para alcançar todas as paulistas em situação de risco em vez de se limitar àquelas com medida protetiva. “A ronda chega a qualquer lugar, 24 horas e é importante que haja policiais femininas no atendimento às vítimas”.

Outro eixo destacado por Luiza Trajano foi a ampliação da representatividade das mulheres em cargos eletivos. “Nossa luta é por mais mulheres no poder”, afirmou, defendendo a meta de 50% de participação feminina nas cadeiras políticas no Brasil”, ressaltou e apresentou uma peça publicitária que estimula o aumento do percentual das candidaturas femininas.

Obstáculos

Dentre as dificuldades para as mulheres acessarem os espaços de poder, na avaliação da reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Raiane Assumpção é a dupla jornada das mulheres e a prevalência da atribuição social do serviço doméstico e da ação do cuidado às mulheres.

Ainda de acordo com Raiane, a maternidade, a sobrecarga doméstica e a falta de apoio institucional ainda afastam as mulheres da gestão universitária.

Apesar das dificuldades, a reitora trouxe também informações de como a universidade tem promovido ações que rompem estigmas e promovem avanços na inclusão. Ela citou que, desde 2021, vem sendo implementado o projeto Carolina de Jesus que tem objetivo de promover acesso étnico, racial e de gênero voltado para pessoas negras, pardas, indígenas e LGBTQI.

A reitora informou que nos últimos concursos para docentes e técnicos entraram 12 pessoas com estes perfis, houve a instituição da cota trans e a promoção de vestibular específico para a comunidade indígena.

A vereadora petista de Guarulhos, Fernanda Curti, reiterou o peso das tarefas do cuidado como um dos principais entraves à participação política das mulheres. Também ressaltou a necessidade de as mulheres disputarem os espaços políticos e votarem em mulheres para ampliar a pauta da defesa das causas e direitos das mulheres.

Já Marina Ganzarolli, fundadora do Me Too Brasil, argumentou que a violência doméstica aumentou com o empoderamento feminino. Na opinião dela, as mulheres que alcançam posições de liderança enfrentam mais obstáculos, como assédio e julgamento triplicado.

A jurista e professora universitária Ana Amélia Mascarenhas corroborou a percepção da fundadora do Me Too Brasil no ambiente corporativo e acadêmico. Ela pontuou que as mulheres tendem a enfrentar assédio e discriminação quanto mais capazes e líderes se mostram, o que “assusta e amedronta os homens”.

A procuradora do Estado de São Paulo, Margarete Pedroso, ressaltou que o rompimento do ciclo de violência passa tanto pela ocupação feminina dos espaços de poder, quanto pela mudança na definição de violência de gênero. “Precisamos deixar de naturalizar essa violência”, defendeu.

A ativista congolesa Prudence Kalambaym, que vive há cerca de 20 anos no Brasil, focou na realidade de refugiadas e imigrantes, como dupla discriminação (raça e origem), dificuldade de acesso a serviços públicos e empregos compatíveis com sua bagagem intelectual, além da barreira da língua.

O evento contou também com a presença da advogada e produtora cultural, Eliane Dias, e da diretora de Equidade e Inclusão do Banco do Brasil, Lidiane Orestes. Eliane salientou que o empoderamento feminino passa por “fazer escolhas inteligentes”, como votar em mulheres.

A empresária cultural conclamou as mulheres a ficarem atentas, e alertarem as pessoas de seu meio, ao acompanhamento de seus filhos no uso das redes sociais, para não serem cooptados por grupos que incitam o ódio, a automutilação e até o suicídio.

Foto: Alesp/Bruna Sampaio.

Compartilhe: